PALAVRA DO EDITOR: TRISTE, NANUQUE COMPLETA 71 ANOS HOJE
Continuando na busca de um
rumo qualquer, Cidade sonha e apela até mesmo para um futuro que venha a
repetir o passado…
(Atualização de texto do
autor já publicado neste blog)
Prof. Ademir Jr.
O ano de 1948 não foi
daqueles que registraram acontecimentos mais marcantes, ao sabor do povo
brasileiro, como conquistas de campeonatos de futebol, morte de político ou cantor famoso, catástrofes ou
coisas do tipo. Só que foi exatamente no dia 27 de dezembro de 1948 que um ato
político-administrativo (lei estadual nº 336/48) resultou na criação do
Município de Nanuque.
Era o nascimento de uma
nova cidade, com prefeitura e câmara de vereadores, com autonomia
administrativa. A lei, bem mais abrangente, estabelecia a nova divisão
administrativa e judiciária do estado de Minas Gerais, que entraria em vigor em
1º de janeiro de 1949.
Nanuque deixava de
pertencer ao município-mãe Carlos Chagas, distante 55 quilômetros. Antes de
Carlos Chagas, ainda no século XIX, Nanuque chegou a ser distrito vinculado a
Teófilo Otoni (160 km). Em tempos mais remotos, já pertencemos ao município
de Minas Novas, localizado no Alto Jequitinhonha, bem mais longe, em torno de
400 km de distância.
Detalhes históricos: Minas
Novas e Carlos Chagas, nossas “ex-mães”, apresentam hoje populações inferiores
aos 40.750 hab. de Nanuque. A primeira oscila na faixa de 31.484 hab.; a
segunda, não mais que 18.837 hab. Na outra ponta, Teófilo Otoni ostenta
população de 140.000 hab. (Dados populacionais do IBGE referentes a 2019)
Importante é destacar que,
hoje, 27 de dezembro de 2019, Nanuque completa 71 anos como município
emancipado.
Se estivéssemos vivendo
outros tempos, a cidade estaria em festa. Aliás, não apenas um dia, mas uma
semana de festejos, misturando Natal e Ano-Novo. Nem mesmo a significância da
data, ano passado, quando festejamos 70 anos, justificou algo mais impactante.
Agora, são 71 anos.
Infelizmente, não é de
hoje que o aniversário da cidade passa batido, não obstante o momento em que as
casas ficam cheias de gente, filhos que vêm visitar seus pais e moradores
antigos que se prestam a matar saudades de tempos idos. Por várias vezes,
tramitaram na Câmara proposições de se criar a “Festa do Nanuquense Ausente” e
outras festividades, no decorrer de dezembro, mas nada se concretizou até
agora.
Triste, mas muito triste, Nanuque
chega aos 71 anos vivenciando talvez a mais grave, a pior crise política de sua
história, com reflexos em todos os segmentos da vida social e econômica. Servidores
não recebem há meses, denúncias que pedem cassação do prefeito tramitam na Câmara, máquina
administrativa emperrada. A cidade só não parou por completo graças aos
investimentos de alguns grupos empresariais, que ainda acreditam no Município.
Como uma setentona
já meio esquecida, dividida entre participar de um desses “clubes da melhor
idade” ou se refugiar em um lar de idosos, Nanuque ainda tem fôlego para soprar velinhas e se alimentar de esperanças.
Claro que seus filhos a amam,
curtem, adoram passar por aqui alguns dias, aproveitando para uma esticadinha
providencial até as praias do litoral baiano ou capixaba. A Pedra do Bueno e o
Rio Mucuri continuam como cartões emblemáticos da cidade.
No plano econômico, o
comércio, algumas atividades de prestação de serviços e o agronegócio ainda
sustentam sua existência, mas é inegável que a cidade perdeu muito nas últimas
três décadas. Sua condição de polo microrregional já não subsiste, decorrente
de saltos registrados por cidades como Teixeira de Freitas/BA, São Mateus/ES e
outras vizinhas da BA e do ES.
Para a Nanuque de hoje, do
jeito que as coisas andam, vale muito aquela frase do Cazuza, na música “O
tempo não para”, sucesso do final dos anos 1980: “Eu vejo o futuro repetir o passado”.
Na memória da cidade, pega
bem falar de futuro, mesmo que ele esteja atrelado ao passado, até porque
Nanuque é uma cidade que se alimenta de um passado próspero para justificar o
presente.
A Cidade foi muito
prejudicada – e continua sendo – pela visão tacanha de seus administradores e
desassistência dos governos estadual e federal. Felizmente, a classe
empresarial, as poucas atividades industriais que resistem, profissionais
liberais, pecuaristas, funcionários públicos e outros segmentos persistem e
seguem segurando as ondas, acreditando que as coisas vão melhorar.
Nanuque pode e precisa
melhorar, não repetindo os erros de escolhas equivocadas para o chamado “poder
público”, nem se comovendo e se impressionando com discursos de mudança
arquitetados à fosca luz do despreparo.
Mas, sonhar já é alguma
coisa a mais que não sonhar e, um dia, a gente acerta, como já acertamos em
nossa historiografia, em momentos distintos.
Pelo sim e pelo não, sem
rancores, vale o “Parabéns!” para essa setentona que ainda tem sede de vida e
muito frenesi por ser/estar.
PROF. ADEMIR RODRIGUES DE
OLIVEIRA JUNIOR
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