Ainda
sobre a Praça dos Estudantes, o que é fazer algo por sua cidade?
Sebastião P.G. de Cerqueira-Neto
A cidade é para mim a célula principal de todo o ordenamento
territorial. Contudo, para além de uma análise geográfica, a cidade apresenta
várias sensações para seus nativos e moradores.
A cidade pode despertar um sentimento de topofobia e
topofilia (conceitos do renomado geógrafo Yi-Fu Tuan). No primeiro conceito, é
quando o indivíduo tem total aversão ao lugar onde mora; o segundo conceito diz
respeito ao amor que os moradores têm pelo lugar onde moram. O episódio da
Praça dos Estudantes, longe de ter sido uma guerra, pode ser entendido como um
ato de passionalidade, de amor, de apego a um símbolo que possui significados
de várias gerações dentro da história de Nanuque.
Dentro daquilo que cada um se propõe a fazer por sua
cidade, a ex-questão da Praça simboliza que nanuquenses, independentemente onde
estejam morando, deixaram aflorar o sentimento de topofilia por Nanuque. Assim,
essa foi uma das maneiras que encontraram para fazer algo pela cidade. A
bipolaridade na questão não significa em si que um lado ama mais Nanuque do que
o outro. São visões diferentes que deveriam compor um cenário de diálogo para
encontrar o melhor caminho; o que acabou acontecendo através do pronunciamento
do gestor da cidade.
O interessante é que nesse
episódio podemos pensar na seguinte frase: o que você já fez por sua cidade?
Com certeza, cada um teria uma resposta diferente. A questão que geralmente
aparece é que o fazer algo pela cidade está ligado a exercer uma ação
empresarial ou de governança, o que certamente tem grande relevância.
Por outro lado, tratar bem a cidade, cantá-la em qualquer
rincão do mundo é também fazer algo. Dessa forma, o gari, a professora, os
médicos, os estudantes, os engenheiros, prefeitos, vereadores, e até aqueles
que não fazem nada, mas que fazem parte da história da cidade, fazem algo por
ela. Portanto, é imprudente medir o seu fazer pela cidade apenas por sua régua,
quando a escala dessa régua é medida por feitos políticos ou empresariais.
O sentimento de topofilia pode
aflorar em qualquer morador, pois amar uma cidade não significa ser dono dela,
não dá o direito de criticar o outro por estar longe da sua cidade; afinal,
nesse mundo globalizado é cada vez mais comum o desenraizamento das pessoas em
relação ao lugar onde nasceu.
Penso que o episódio da Praça
dos Estudantes, de uma certa maneira, serviu, no meu caso, para contemplar o
quão grande é o sentimento de amor dos nanuquenses por sua cidade. Foi nesse
episódio que reencontrei colegas contemporâneos de escola, onde muitos deles se
tornaram autoridade com alteridade, mesmo que não sentemos na mesma mesa para
degustar um bom vinho ou uísque fiquei feliz em revê-los amando arduamente a
cidade onde nasceram.
Parabéns a todos, sem
distinção, pela preservação da Praça dos Estudantes. Mesmo a distância,
continuo a cantar a cidade onde eu nasci, nos meus artigos em revistas
científicas, nos livros acadêmicos que escrevo, nas palestras, pois é a única
maneira que encontrei, como protótipo de intelectual, para fazer algo por
Nanuque.
Infelizmente não atingirei o nível de fazer pela cidade
como fez, por exemplo, minha avó Ana Rodrigues Gangá, que por mais de 30 anos
morando na Rua Barbacena, ofereceu aos amigos da coleta de lixo café, água e
biscoitos todas as noites sem pedir nada em troca. Essa talvez seja minha maior
referência sobre o que posso fazer pela minha cidade.
Sebastião P.G. de Cerqueira-Neto
Professor no Instituto Federal da Bahia
Professor no Mestrado em Ciências e
Tecnologias Ambientais IFBA/UFSB
Pós doutorado na UFBA
Pós doutorado na Universidade de
Coimbra-Portugal
Pós doutorando na UFRJ
Acima de tudo, um Nanuquense.
"A Nossa cidade" ao longo de nossas vidas muda. Passamos a ser morador de cidades que não é a nossa cidade natal em decorrência do nosso trabalho, estudo, melhores condições de vida, enfim.
ResponderExcluirMas sempre em nossos melhores sonhos a nossa cidade está lá nos esperando.
Voltar, rever os amigos, ver as mudanças, tentar lembrar como era antes. Tudo de bom ter essa saudade dos bons momentos de nossa infância, dos nossos amigos, dos nossos familiares q estão nos esperando pra tomar aquele café com biscoito frito e de visitar os que já a foram.
Nanuque cidade querida.
Oh Nanuque... Saudades dos bons tempos que não voltam mais!!!
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