GEÓGRAFO COM PÓS-DOUTORADO EM PORTUGAL FORTALECE MOVIMENTO POPULAR CONTRA A ENTREGA DA PRAÇA DOS ESTUDANTES
Ele estranhou postura do prefeito Roberto, que foi líder estudantil na juventude, e disse que o Governo de Minas deveria ter vergonha de receber esse tipo de doação
Fortalece a cada dia o movimento do povo de Nanuque contra a decisão da Câmara Municipal, que na semana passada aprovou projeto de doação da Praça dos Estudantes ao Governo de Minas, para construção de uma delegacia de polícia. Quem acaba de entrar na luta é Sebastião P.G. de Cerqueira-Neto, geógrafo nascido no Município, hoje professor do Instituto Federal da Bahia e professor no Mestrado em Ciências e Tecnologias Ambientais IFBA/UFSB.
Com cursos em nível de pós-doutorado na UFBA, na UFRJ e, recentemente, na Universidade de Coimbra (Portugal), Sebastião enviou ao amigo Ademir Jr., editor de Nexus Assessoria / Jornal e Revista Objetivo, o artigo intitulado “O que é uma praça?”, onde deixa claro o seu posicionamento.
O que é uma praça?
Tecnicamente, uma praça serve como um poro para que a cidade transpire; daí o porquê das cidades interioranas serem privilegiadas por ainda terem espaço dentro do seu território para abrigar uma praça. Nas grandes cidades, as praças foram sufocadas, assim como os campinhos de várzea; tudo em nome do capitalismo e fruto de má gestão pública.
Mas a praça, para nós, mineiros, tem um significado que dispensa qualquer análise acadêmica, urbanística. As cidades mineiras sempre tiveram como atração, além da hospitalidade, suas pracinhas. A praça é o lugar dos encontros; encontro das gerações, encontros culturais, encontros românticos, encontro de contemplação da paisagem.
Ao doar uma praça para a construção de uma delegacia, o poder público de Nanuque passa por cima da Lei Orgânica do Município em seu artigo 99. Mas, para além disso, prefeito e vereadores contribuem para enterrar mais um símbolo histórico de Nanuque, a Praça dos Estudantes.
Acabar com a praça revela incapacidade intelectual e técnica de compreender o que é um bem público
O mais interessante, para não dizer um completo antagonismo, a assinatura do projeto é de quem um dia se intitulou líder estudantil. Espera-se de quem assume o poder, numa cidade como Nanuque, que tenha a sensibilidade de buscar um desenvolvimento para a cidade, porém, sem perder a essência da sua história e da sua cultura, pois Nanuque vem sendo castigada por sucessivos governos que desprezaram sua cultura e a história.
Acabar com a Praça dos Estudantes é somente mais uma contribuição nefasta na continuidade de gestores públicos, cuja característica governamental se pauta pela incapacidade intelectual e técnica, de compreender o que é um bem público.
Prefeito e vereadores não se importam com o que o povo pensa e não compreendem que o território de Nanuque não tem dono
A praça é um bem público, não pertence a prefeitos e vereadores, pertence ao povo. Mas, como o povo é invisibilizado pelos seus próprios governantes, então, a supressão da Praça dos Estudantes é reafirmação de que prefeito e vereadores de Nanuque não se importam com o que o povo pensa, e muito menos compreendem que o território de Nanuque não tem dono.
Ou será que estamos assistindo à retomada do coronelismo em Nanuque? Um coronelismo mais fino, de grife? Custo a acreditar que a resposta seja afirmativa, levando em conta a origem socioeconômica daqueles que estão governando a cidade.
Um governo que carrega na sua história luta contra a ditadura militar, a favor do direito dos estudantes, que aparenta se dedicar à ciência do Direito, deveria ao menos realizar um plebiscito para perguntar ao povo o que fazer com sua praça histórica.
Por outro lado, o Governo de Minas Gerais deveria se manifestar contrariamente ao recebimento impróprio da praça; impróprio porque fere a lei municipal, mas que, principalmente, fere a história dos nanuquenses.
O Governo de Minas Gerais deveria ficar com vergonha de receber esse tipo de doação, deveria ensinar ao governo municipal que uma praça em qualquer cidade mineira não é para ser destruída e muito menos se transformar num lugar de repressão a crime.
Acredito que representantes da Delegacia de Regional de Segurança Pública de Minas Gerais devam estar se sentindo desconfortáveis com tal embaraço criado pela gestão do Município
Outrossim, acredito que representantes da Delegacia de Regional de Segurança Pública de Minas Gerais devam estar se sentindo desconfortáveis com tal embaraço criado pela gestão do Município, pois, sendo um órgão que preza pela justiça, seguramente devem entender que a descaracterização da Praça dos Estudantes se configura num ato ilegal e injusto com a população de Nanuque.
O que deve ser visível numa cidade, na sua centralidade, são os símbolos que a representam, como seu povo vem tratado, suas igrejas conservadas, suas praças efervescendo cultura e harmonia urbanística e, sobretudo, guardando e conservando a sua história.
Uma cidade não é feita apenas de concreto, mas por uma confluência de sentimentos como fé, amor, respeito, admiração, que são vetores considerados como abstratos. E é no reconhecimento de que o abstrato tem fundamental importância para se compreender o mundo, a geografia em que vivemos, é que está a possibilidade palpável do desenvolvimento de um lugar.
Por fim, apenas como sugestão, porque não se elabora um projeto para que a Praça dos Estudantes receba feiras literárias, festivais de canções, biblioteca ao ar livre, espaço de arte!?
Se tudo não der certo, então, que o povo ocupe a praça.
Sebastião P.G. de Cerqueira-Neto
Professor no Instituto Federal da Bahia
Professor no Mestrado em Ciências e Tecnologias Ambientais IFBA/UFSB
Pós doutorado na UFBA
Pós doutorado na Universidade de Coimbra-Portugal
Pós doutorando na UFRJ
Acima de tudo, um Nanuquense
Se o prefeito ou um dos vereadores que aprovaram tal absurdo ler esse belo texto vão ficar envergonhados, caso tenham alguma.
ResponderExcluirConcordo Jarbas!
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