JOÃO CAPETA:
UNIVERSO DA PERCUSSÃO
E OUTRAS EXPERIMENTAÇÕES MUSICAIS
Violão, viola de dez cordas, contrabaixo,
cavaquinho e bandolim; flautas, clarinetes e outras peças de sopro. O que for
colocado nas mãos do João, ele dá conta do recado, com talento, referências e vasto
conhecimento musical, mas a sua paixão mesmo está no universo da percussão e
nas mil sonoridades extraídas de dezenas de instrumentos.
É o que rodeia o nanuquense João Carlos
Almeida Leite, ou “João Capeta”, cognome que carrega desde a infância, por ter
sido uma criança traquinas, como o próprio revela. Em mais um inverno que
começa, João chega com todo gás aos 59 anos nesta quinta-feira, 22 de junho.
Dividindo seu espaço com alguns dos
instrumentos já mencionados, ele faz questão de pendurar os seus preferidos ou deixa-los
bem perto da cama: caxixis, pandeiros, sinos tubulares, agogô, casacas,
chocalhos, marimba, bongôs, cuíca, repinique, atabaque, zabumba, conga,
triângulo, reco-reco e até vibrafone, entre tantos.
João conta que saiu de Nanuque ainda
adolescente e foi “pro mundo”. Morou por 15 anos em um mosteiro de Ouro
Preto/MG, trabalhou em Belo Horizonte, frequentou e trabalhou muito na noite da capital
mineira, até conhecer Marco Antônio Guimarães e, com ele, acompanhar como roadie o grupo Uakti, provavelmente o
mais conceituado grupo brasileiro de música instrumental que existiu entre o
final da década de 1970 até 2015.
O grupo Uakti |
O Uakti começou acompanhando artistas já
consagrados, como Milton Nascimento, até assumir uma carreira sólida e de
reconhecimento internacional. Ficou conhecido por utilizar instrumentos
musicais não convencionais, projetados e construídos por Marco Antônio, seu
líder. Na formação mais duradoura, o grupo contava com Artur Andrés Ribeiro,
Paulo Sérgio Santos e Décio Ramos.
O nome do grupo se origina de uma lenda dos
índios Tukano. Uakti era um ser mitológico que vivia às margens do Rio Negro. A
lenda diz que Uakti era um monstro com o corpo todo aberto em buracos e que
quando Uakti corria pela floresta o vento que passava pelo seu corpo produzia
suaves sons, estes sons atraía as mulheres das tribos vizinhas e Uakti as
seduzia, enciumados os índios caçaram, mataram e enterram Uakti na floresta, no
local de sua sepultura
Sempre acompanhando o Uakti, João Capeta vivenciou um número
incontável de shows pelo Brasil e em países como Espanha, Portugal, Alemanha,
Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Argentina e outros tantos. Esteve
presente em shows e gravações ao lado de gente como o já citado Milton
Nascimento, Paul Simon, o grupo vocal Manhattan Transfer, Ney Matogrosso, Maria
Bethânia e Zélia Duncan.
Época em que morava no mosteiro, em Ouro Preto |
Em 2000, João foi convidado para a gravação
de um CD de música experimental e recital de poesias, intitulado “João,
Gilberto e Clarisse”, composto de dez faixas e sete poemas, todos colhidos na
safra da poesia contemporânea mineira: Murilo Antunes, Ronaldo Brandão, Luciana
Tonelli, Maria José Bretas, Joana Guimarães, além do próprio Gilberto de Abreu, responsável pela concepção musical e arranjos finais de todas as faixas.
Tocando um cavaquinho em outra afinação, acrescida de efeitos sonoro-tecnológicos,
deu o tom para a percussão do nanuquense. No final, o nome ficou sugestivo, fazendo
lembrar João Gilberto e Clarice Lispector, dois gigantes da música e das
letras.
Capa do CD |
O Capeta das terras nak-nuk teve papel
importante no CD dominando a percussão. Outro nanuquense, o Tattá Spalla,
assinalou participação especial. O disco é uma preciosidade, por inteiro.
Em BH, ao lado de amigos. À direita, o percussionista Djalma Corrêa |
Zen-budismo, keiki e outras sabedorias do
oriente em linha direta com a múltipla religiosidade do povo brasileiro, o amor
pelo jazz, fusion e música erudita, as referências de Miles Davis, Pat Metheny,
Toninho Horta, Bach, Vivaldi, Naná Vasconcelos, Djalma Corrêa, Jack DeJohnette,
Neném, Weather Report e um sem-número de feras, compõem o perfil deste filho de
Nanuque, que há alguns meses decidiu retornas às origens.
Queixa-se de não estar tocando o que gosta,
fazendo apresentações ao lado de amigos, mas aproveita o tempo para continuar
estudando música e acreditar que tudo vai dar certo.
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